quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Forte da Ínsua – O pesqueiro dos robalos gigantes


 Este forte encontra-se situado na foz do rio Minho, fazendo fronteira com Espanha. É constituído pelo forte em si e por uma rochas um pouco distantes a norte, denominadas Ínsua Velha, sendo esse o ponto onde são capturados os maiores exemplares – atingindo alguns os nove quilos de peso.
De viagem – Moledo do Minho situa-se junto à foz do rio Minho a norte e a Vila Praia de Âncora a sul, cerca de 20km a norte de Viana do Castelo. A rede de auto--estradas e itinerários complementares nacionais torna fácil chegar a esta aldeia minhota, venha-se do norte ou do sul do País. Quem sair de Viana do Castelo pela Nacional 13 em direcção a Valença começa a encontrar setas que indicam Moledo logo a seguir a Vila Praia de Âncora.
A costa, rochosa, tem entradas de mar (regos) que, com o subir e descer das marés, a tornam rica em percebes, mexilhão, lapas, búzios, navalharias e santolas; os peixes que se alimentam destas iguarias arrastam atrás de si vários predadores de grande porte e assim se explica a abundância de robalos de tamanho considerável no Forte – bem como de safios, alguns a ultrapassar os 15Kg.
Como passar para o Forte – Para a passagem tem várias alternativas. Uma delas (e a mais usual) é recorrer aos serviços de um senhor daquele local, conhecido como Sr. Garrafão, que se encarrega de passar as pessoas e depois à hora combinada as vai buscar; outra, se caso for em grupos muito grandes, é fazer um pedido à Policia Marítima e solicitar que faça a passagem das pessoas para o forte.
O que pescar e como pescar – A pesca neste forte pode ser exercida em toda a modalidade existente, seja a pesca à boia, a pesca ao fundo, a pesca à chumbadinha, ao corrico e a pesca ao fundo.
A pesca ao Corrico – Esta pesca não requer, principalmente nesta zona, grande técnica, pois em toda a zona do forte se pode corricar e obter em qualquer das circunstâncias bons resultados.
O “chibo” (um chumbo com formato de peixe que leva numa extremidade alguns pelos de rabo de cavalo e dois anzóis), é excepcional e dá resultados realmente deslumbrantes. Outra técnica que dá bons resultados é a das raglou de onze centímetros, pois os restos de outros peixes que a corrente arrasta fazem de engodo e mal essa amostra cai na água...os robalos, principalmente, ficam maravilhados com elas e atacam ferozmente.
A pesca ao fundo – É realmente emocionante pescar peixes com alguns quilos, principalmente com esta técnica, já que as quantidades de robalos e sargos quando encostam ao forte são de grande porte e muito vorazes.
Na pesca ao fundo, conhecendo alguns pesqueiros, faz-se realmente boas pescarias com caranguejo de muda, rabo de polvo, amêijoa branca casulo, tiagem e isca mansa.


Segredo dos Robalos


Quando apanhamos um robalo uma das coisas mais úteis que podemos fazer (pressupondo que vamos guarda-lo, porque tem o tamanho mínimo legal de 36cm) é abri-lo e ver o que traz no seu sistema digestivo. Não é que com isso passemos a saber logo tudo sobre a alimentação ou que possamos tirar logo muitas consequências definitivas sobre o seu comportamento. Mas sempre ficamos a conhecer um pouco a vida em concreto daquele exemplar e, baseados no que a experiência ensina especular um pouco sobre os hábitos de vida dos robalos daquela zona. É que, quando vemos os peixes que ele persegue a saltar fora de água, ou quando o mar nos deixa vê-lo por instantes a atacar crustáceos, sabemos o que ele anda a fazer, mas a partir daí a vida do robalo, ou pelo dos robalos da nossa região, é um total mistério.

O robalo

Um traço curioso sobre este peixe é que quer o seu nome científico quer o nome comum, em diversas línguas, parecem querer descrever o robalo como uma espécie de lobo, certamente por causa do seu estilo de caça. No Latim aparecia com “lupus”. Por isso não espanta, ao abrir alguns exemplares capturados, que até na garganta ainda venha um molusco caçado pouco antes. E ainda assim espanta menos se olharmos para a sua morfologia: uma cabeça forte, uma boca grande armada com dentes finos e pontiagudos e uma forma ágil e adaptada às suas corridas curtas e estonteantes, com o corpo longo e fino cheio de barbatanas de impulsão. Não haja duvidas, se na natureza a função faz a forma, o robalo foi feito para caçar. O funcionamento dos seus sentidos parece confirmar esta ideia, porque o robalo apresenta uma percepção muito apurada, quer pelo ouvido quer pela linha lateral. Se atirarmos uma pedra pequena para perto de um sítio onde haja vários, eles virão ver o que se passou. Mesmo quando ao pé da água há barulhos fortes (como obras de uma marina), inicialmente fogem mas acabam por regressar e mostrar que se habituaram ao que ouviram. O que significa que o carácter deste peixe acompanha o formato do ser corpo. O robalo é inquisitivo e vivaço. Se fosse uma pessoa teria uma personalidade extrovertida. Tem variações de humor e talvez seja exagerado dizer que é inteligente, mas é certamente um peixe desconfiado.

Quanto as seus hábitos o robalo é um peixe de águas limpas e não muito quente, por isso é que os pescadores sentem picadas entre setembro e outubro. Tolera temperaturas entre 2 e 32 ºC, entre os 15 e 25 mostra-se activo e confortável, mas o ritmo mais rápido de crescimento é alcançado quando a temperatura estabiliza nos 20 ºC. É um peixe de costa, dai ser raríssima a sua captura na pesca embarcada, e na idade adulta bastante solitário, com a natural excepção da época da desova. O seu comportamento varia de zona para zona e, dentro da mesma, em função de mares e correntes, estado do mar, ventos dominantes, pressão atmosférica, etc., por isso a pesca se torna extraordinariamente difícil.
A morfologia que descrevemos permite-lhe alcançar uma velocidade de três metros por segundo, atacando como um relâmpago as suas presas: sardinhas, peixes-rei, chicharros e muitos outros peixes gregários que costumam saltar fora da água quando perseguidos. Também usa a poderosa cauda para remover do fundo da areia e desenterrar anelídeos, moluscos e crustáceos, por isso é que, quando há rebentação, se aproxima da margem para caçar animais que são expulsos pela força das ondas e ainda estão aturdidos.
Já com o mar calmo, é mais difícil esperar encontra-los perto da costa, pois nessa altura a sua estratégia de caça (esconder-se para surpreender a presa com um curto sprint) perde valor (as presas conseguem detectá-lo à distancia). Por isso vai para águas mais profundas, especialmente para zonas rochosas.
Posicionamento

Todas as deslocações de um peixe profissionalizado no seu oficio são explicadas pela satisfação directa das suas necessidades imediatas (alimentação e recuperação), com o mínimo de consumo e sem desperdício.
Nenhuma das suas viagens é feita para se entreter ou brincar. Por isso o pescador entende as necessidades dele é o que sabe onde ele anda e por isso tem mais hipóteses de o apanhar. Por partes : Recuperação – após a desova, em que não se alimentou, o robalo necessita de repor as energias e aproxima-se da costa para dar caça aos cardumes de alevins que aí andam, por isso passam um período de cerca de duas semanas muito perto da superfície. Os mais jovens aproveitam-se da sua tolerância às diferenças de salinidade para subir as fozes, chegando quase à água doce (com os adultos isto é raro, quando muito ficam pela foz).
Podemos identificar aqui dois períodos anuais. Da Primavera ao Outono, aproxima-se da superfície, procurando águas muito agitadas e ricas em oxigénio, no Inverno, a baixa temperatura da superfície leva-o a procurar águas mais fundas, onde podemos continuar a pescá-lo a não ser que um frio excessivo lhe reduza a actividade e nos dificulte as coisas. Desta dependência da temperatura é que nasce o facto de nas noites de Verão ser mais comum apanhá-lo do que nas de Inverno, não tem só a ver com o facto de no Verão sermos mais à noite a tentar apanhá-lo...O período de Setembro a Novembro, se não for frio demais, é o melhor período para a pesca ao robalo.
Alimentação – Ao longo do mesmo período, o robalo fixa-se muito no seu posto, isto é, quando perto da margem há rochas ou pontões ele sedentariza-se aí, desde que tenha uma profundidade de pelo menos 1 m. Nesses locais tem segurança, a rebentação não o incomoda e as distâncias a percorrer para caçar são poucas, já que é a própria água que traz a comida. Por isso o conhecimento da orla marítima por parte do pescador é fundamental e essa é, quanto a nós, a maior vantagem de pescar muitas vezes no mesmo sitio. Devemos por isso correr com o anzol esses locais, e só depois passar para os outros. O robalo é como se sabe um caçador solitário, principalmente em águas mexidas, onde podemos detectá-lo nos redemoinhos, nas coroas de areia e na entrada das praias à espera de comida; mas também persegue as presas na rebentação.
Ele caça a qualquer hora do dia ou da noite. Ao contrário de muitos peixes, ele não deixa de caçar durante a desova; o que acontece é que, como qualquer outro predador, do mar ou da terra, não está permanentemente a alimentar-se (esse é um comportamento típico dos herbívoros, não dos carnívoros caçadores), por isso é que exemplares adultos que apanhámos na desova tinham o bucho cheio e outros apanhados fora da desova o apresentavam completamente vazio.

E o pescador?
Que consequências traz tudo isto para a pesca? Depende. Se pescamos numa zona que conhecemos bem, já saberemos, em principio, onde há rochas submersas, redemoinhos, coroas de areia, rebentação, etc. Neste caso, se um determinado isco não está a funcionar, o aconselhável é ir trocando, depois de dar cada um uma hipótese razoável. A polémica sobre qual é o melhor isco não chega a sê-lo, porque o melhor isco é aquele que passa mais tempo na água por isso é o que apanha mais peixe...
Se pelo contrário, estamos a pescar numa zona desconhecida, o que fazer? Bom, além do óbvio (procurar rochas com a ponta de fora, ver onde há coroas de areia, etc.), só nos resta ir picando as faixas de mar uma a uma. Para mim um processo que tem dado resultado é explorar primeiro os “postos fixos” que o robalo assume nos rochedos e, se não resultar, ir cobrindo distâncias cada vez maiores, mas fazendo uma espécie de leque, isto é, em cada distancia começar mais à direita e ir passo a passo para a esquerda.

O mito das “Condições ideias”
Todos ouvimos já pescadores mais velhos a dividir as águas “boas” e “más” para o robalo, dizendo que as primeiras tem ondulação e espuma, ventos ligeiros a riscar a superfície, etc., mas esses mesmos colegas não ficam nada surpreendidos quando, a pescar em águas que eles próprios classificam como más, apanham robalos de quilo ou mais. Isto mostra que estas “regras” tradicionais não são verdades absolutas, mas apenas tendências, estatísticas; obrigam-nos, isso sim, é a usar a nossa versatilidade para reagir às condições do mar. A explicação é sempre a mesma: nada do que o robalo faz é feito por acaso, tudo tem uma razão e nós é que temos de a descortinar. Então, quais são as “condições ideias” para a pesca ao robalo? Vamos ver.
As épocas altas – Salvo factores excepcionais, como um desastre ambiental, o ano tem duas épocas distintas que favorecem a nossa pesca: uma principal de Outubro a Dezembro, e outra, ocasional, de Abril a Junho (quando há céus nublados, ventos moderados, águas mexidas...). A primeira favorece a pesca porquê? A atmosfera e a água arrefecem, os dias começam a ter menos horas de sol e isso significa menos microrganismos a reproduzir-se, logo menos comida para as presas do robalo. Por isso o robalo começa a desertar para os postos de Inverno, para águas mais profundas e para a cobertura que as rochas lhe proporcionam.
E na segunda, o que se passa lá em baixo? A temperatura da água aumenta e o robalo, que vem de meses frios seguidos, precisa de comida para repor o seu peso, esta época coincide com o surgimento de numerosos organismos de que ele se alimenta: camarões, lagostins, pulgas do mar, peixes pequenos, o robalo encontra de tudo em todo o lado. Por sua vez, o mar ainda não perdeu toda a agitação do Inverno e dá grande cobertura às suas caçadas. À medida que o ano avança, este cenário vai piorando até a conhecida modorra do Verão.
No resto do ano, não há que desesperar, porque os locais como rochas submersas, praias com fundo de areia ou com fundos muito inclinados, pontões grandes ou fundos cobertos de algas têm sempre a capacidade de nos surpreender...
Meteorologia – O estado do mar depende sempre do vento. Onde quer que dois fluidos sobrepostos mas com densidades diferentes se movam, há ondulação entre eles.
No mar, a acção do vento é quase horizontal, pois depara-se com a superfície do mar, mas não é regular, tem focos de diferente intensidade e direcção, criando depressões e protuberâncias. Quanto mais intensas aquelas, maiores serão as ondas. Ao contrário do que pensamos, as partículas de água não “acompanham” a onda até à borda de água; cada partícula tem um movimento circular, subindo para depois descer e ser substituída por outra.
A prova disso está em que, se pusermos um objecto à tona de água numa zona com ondas, ele sobe e desce com elas, mas não avança nem recua – a não ser que o vento o empurre. Por isso, à medida que a onda se aproxima de terra as partículas são empurradas já contra o fundo, ou quando embatem num obstáculo submerso, criam a rebentação que todos conhecemos. Isto permite-nos detectar rapidamente os baixios, as rochas submersas e a profundidade da água num dado ponto, o que funciona a nosso favor. As ondas são nossas aliadas, porque estão permanentemente a descascar o fundo e as rochas, desenterrando os vermes que aí se escondem e chamando os peixes que o comem. Já um mar sem ondas, além de não levantar bicho nem criar coroas, facilita o trabalho ao robalo, que detecta o nosso isco.
As Marés – Por norma costumamos pesquisar o windguru ou nas tabelas de marés das lojas de pesca para saber quando é que determinado pesqueiro vai estar a vazar ou encher.
Não se sabe ao certo que consequências tem a maré no peixe e na pesca. Há quem diga que a enchente traz o peixe a costa, mas já se apanhou robalos de peso considerável na vazante. O que se sabe é que o ciclo de uma maré dura doze horas e vinte e cinco minutos, por isso quando estamos a planear a pesca de um fim de semana, com amigos, por exemplo, já sabemos que o pico da enchente de Domingo vai acontecer cinquenta minutos depois da hora a que ocorreu no Sábado.
A amplitude das marés aumenta progressivamente até uma ou duas noites depois de cada lua cheia e cada lua nova; por isso em cada mês temos duas marés vivas e duas marés mortas.
Que influência tem isto na pesca?
Sinceramente, cremos ser pescador de fiar um calendário com regras fixas, porque neste ponto há factores que não podemos prever nem controlar. O que podemos fazer, isso sim, é aproveitar a maré baixa para estudar o fundo do mar, vendo onde há rochas, fundos de areia, ou lodo, caneiros, etc. Por outro lado, nos fundos moles o perfil muda todo de um ano para o outro; o que sabíamos sobre um pesqueiro nas férias do ano passado já pode estar totalmente desactualizado.